O ocidente é uma
criação do cristianismo. A dominação sobre a natureza é a vitória do homem
sobre as forças impessoais do meio. As condições para a aquisição do
conhecimento que emanciparia o homem do cativeiro da natureza são dadas pela
cosmovisão cristã, segundo a qual o mundo é criação de um Deus racional que o
sustenta e governa ainda agora. A noção de providência garante que o
mundo tem uma ordem (é portanto em si mesmo racional) que pode ser apreendida e
manipulada para o bem do homem. Além disso, afirmando que a única coisa digna
de culto e de temor é o Deus absolutamente transcendente, o cristianismo
anuncia ao homem que nada neste mundo, humano ou não, é objeto de servidão. O
homem já não se curva amedrontado diante dos fenômenos naturais nem pode
justificar a opressão sobre o próximo em nome do privilégio divino de uma
minoria. Nada no mundo é divino. Tudo está submetido ao homem porque foi
submetido por Deus a ele. Nenhum homem está submetido a outro porque todos
estão submetidos a Deus (1 Coríntios 8.5-6).
A igualdade humana tem um único fundamento: é uma igualdade diante de Deus. A recusa de Deus como fundamento restabelece as variadas formas históricas de opressão. Hoje acredita-se que um retorno ao paganismo seria uma emancipação da opressão do moralismo judaico-cristão e uma substituição da paixão técnica que reifica o homem por uma relação harmoniosa com o cosmo. Mas isso é uma falsificação histórica ou no mínimo uma idealização cristã do paganismo, ou seja, uma idealização do homem emancipado da natureza que pode soberanamente decidir voltar-se a ela. Quem idealiza o paganismo o idealiza a partir dos privilégios legados pelo cristianismo.
O retorno ao paganismo é de fato uma regressão. O cristianismo emancipou o homem do paganismo, isto é, dos inúmeros determinismos do paganismo (Colossenses 2.10-16). No mundo do paganismo o homem é jogado de um lado para o outro pelo capricho dos deuses ou pela irracionalidade cega da natureza, o que dá na mesma. O homem pagão não ama a natureza – só o homem emancipado pode realmente amá-la –, mas a teme. Por isso é obrigado a lhe prestar culto e buscar seu favor sem quaisquer garantias. No mundo do paganismo a proximidade do divino permite que a qualquer momento um grupo tome o seu lugar para oprimir outro (Colossenses 2.8). De fato, divinizar o mundo é multiplicar as oportunidades e justificativas de servidão.
O retorno ao paganismo é de fato uma regressão. O cristianismo emancipou o homem do paganismo, isto é, dos inúmeros determinismos do paganismo (Colossenses 2.10-16). No mundo do paganismo o homem é jogado de um lado para o outro pelo capricho dos deuses ou pela irracionalidade cega da natureza, o que dá na mesma. O homem pagão não ama a natureza – só o homem emancipado pode realmente amá-la –, mas a teme. Por isso é obrigado a lhe prestar culto e buscar seu favor sem quaisquer garantias. No mundo do paganismo a proximidade do divino permite que a qualquer momento um grupo tome o seu lugar para oprimir outro (Colossenses 2.8). De fato, divinizar o mundo é multiplicar as oportunidades e justificativas de servidão.
O humanismo
– a excelência do homem, a doutrina do valor do homem – só alcança
universalidade pelo cristianismo. O humanismo romano é a garantia dos direitos
humanos do romano. Ao passo que o cristianismo nivela a todos em Cristo
(Gálatas 3.26-28). É o rompimento espiritual – e portanto núcleo de toda futura
teoria crítica da dominação – com todos os vínculos de opressão. O rompimento
espiritual precede o rompimento histórico. Os crimes da cristandade
sempre decorrem da divinização de um elemento do mundo – um líder religioso,
uma autoridade política ou uma instituição social. Os crimes da cristandade já
são indícios de um retorno ao paganismo, aos vínculos espirituais de
escravidão.
O próprio secularismo é um produto da herança cristã do ocidente. Nas civilizações pré-cristãs, pagãs, autoridade religiosa e estatal era uma só. O culto ao imperador, por exemplo, era a base ideológica da estrutura política do império romano. As injustiças sociais estavam assentadas sobre uma ordem divina inalterável encarnada em homens e coisas diante das quais só era admitido o culto conformado e agradecido. O cristianismo reconhece a desordem do mundo (1 João 5.19) – logo a necessidade de lutar contra ela em nome do reino de Deus – e a atribui ao pecado do homem, ou seja, responsabiliza o homem perante Deus e perante o homem, e assim fundamenta movimentos revolucionários de emancipação.
O próprio secularismo é um produto da herança cristã do ocidente. Nas civilizações pré-cristãs, pagãs, autoridade religiosa e estatal era uma só. O culto ao imperador, por exemplo, era a base ideológica da estrutura política do império romano. As injustiças sociais estavam assentadas sobre uma ordem divina inalterável encarnada em homens e coisas diante das quais só era admitido o culto conformado e agradecido. O cristianismo reconhece a desordem do mundo (1 João 5.19) – logo a necessidade de lutar contra ela em nome do reino de Deus – e a atribui ao pecado do homem, ou seja, responsabiliza o homem perante Deus e perante o homem, e assim fundamenta movimentos revolucionários de emancipação.
A separação entre
autoridade religiosa e política vem a se estabelecer com o cristianismo,
como separação entre igreja e Estado: dai a César o que é de César e a Deus o
que é de Deus. Novamente o cristianismo, ao negar caráter divino a qualquer
elemento do mundo, confere a dignidade própria de cada esfera da ordem criada
uma em relação à outra. O Estado pode ser Estado porque não é igreja, e
vice-versa. Hoje cristãos e não cristãos andam esquecidos do que é realmente o
secularismo e de sua relação com a fé cristã. Hoje o ocidente quer se emancipar
do cristianismo sem compreender que isso implica retornar ao paganismo – ou
seja, à servidão do paganismo. Trata-se de um processo facilmente verificável:
executivos para quem só o dinheiro importa – o que qualquer um consideraria o
cúmulo da racionalidade e do materialismo desencantado – cercam-se de pedras,
pirâmides e cristais para afastar as “energias negativas” que prejudicariam os
negócios. A crença em “energias” é o reencantamento de um mundo desencantado
pela força de esclarecimento do cristianismo. Novamente o homem se curva diante
dos elementos do mundo. O ocidente, como o filho pródigo, se esquece de sua
essência divina, afastando-se do pai, para enfiar a cara nas bolotas de porco.