sexta-feira, 3 de junho de 2011

Não confunda sintomas com causas

Não confundamos sintomas com causas. A maioria dos pecados contra os quais pregadores vociferam e igrejas fazem campanha são simplesmente sintomas. Os pecados sexuais são o melhor exemplo. Prega-se contra práticas; fazem-se listas do que se pode ou não se pode fazer no que diz respeito a sexo. Estamos zelando pela moral e pelos bons costumes, dizemos. Mas não é pela moral e pelos bons costumes que deveríamos zelar. Mas sim pelo evangelho. O evangelho não é moral. O evangelho não é ética. O evangelho não é política. É mais, muito mais que isso. O evangelho é o seu próprio caminho, que inclui muitas coisas que chamamos de moral, ética e política, mas à sua própria maneira, à maneira do evangelho. O único método do evangelho é ele mesmo.

Pregamos contra sintomas, e não contra causas. Invertamos a equação. Os pecados sexuais são apenas expressões de um problema mais profundo, que, devidamente investigado, nos chocará. Ou, na linguagem neotestamentária, nos escandalizará. Descobriremos que heterossexuais cometem os mesmos pecados que homossexuais. A única diferença é a forma como esses pecados se evidenciam aos olhos dos outros. A única diferença é a publicidade dessas expressões.

Posso nomear uns três pecados que eu, heterossexuais comportados e homossexuais assumidos cometemos vivendo como vivemos: narcisismo, vaidade e egocentrismo. Porque pecados sexuais são basicamente expressões da mesma busca egoísta de satisfazer a si mesmo. Custe o que custar, seremos felizes. Mesmo que tenhamos que usar pessoas para isso, como temos usado. Mesmo que tenhamos que usar os corpos de pessoas para isso, como temos usado.

Lemos mal Romanos 1.18-32. Nós investimos contra os sintomas e nunca chegamos às causas. Condenamos as coisas erradas. Deveríamos condenar o individualismo, o hedonismo e o comodismo da nossa cultura, que é uma cultura de vítimas e mimados, que viveram a vida toda no luxo e nunca estão satisfeitos com nada. Em vez disso, escolhemos alguns bodes expiatórios - sem dúvida alguma, os mais fracos do bando - e, como lobos, os atacamos. São aqueles que têm dificuldade para esconder a própria sujeira. Mas nós, os fortes, sabemos pecar em segredo, de portas fechadas, sem deixar rastros.

O sermão do monte é tão terrível e brilhante porque pega cada um dos mandamentos que os religiosos da época diziam praticar, gabando-se de sua justiça de butique, e mostra que o buraco é mais embaixo. "Vocês ouviram o que foi dito..., mas eu lhes digo", Jesus repete. A primeira parte é a da justiça aparente; a segunda é a exposição do real problema que cada um dos mandamentos envolve. Você percebe que, no sermão do monte, todos nós estamos implicados nos mesmos pecados.

"Vocês ouviram o que foi dito sobre adultério; mas eu lhes digo que se vocês olharem para alguém na rua para despi-lo em pensamento, vocês já pecaram." É tão difícil entender o que está escrito aí? Não está claro que, se eu aponto o irmão que trai a esposa ou o casalzinho de jovens que faz sexo antes do casamento, estou acusando a mim mesmo porque cometo o mesmo pecado que eles, ainda que à minha maneira? Isto é, em segredo, discretamente, em pensamento? "Não julguem se não quiserem ser julgados." Isso é o fundamento, e o temos observado?

Repetimos: "Não existe pecadinho e pecadão; todos os pecados são iguais". Mas acreditamos realmente nisso? Acreditamos que nossa maledicência no trabalho ou na igreja é tão ruim quanto fornicação? Até a palavra é mais feia: fornicação. Quem fornica deve realmente ser mais feio e malvado que quem maldiz. Olha o nome: fornicário. Credo.

Lemos mal Romanos 1.18-32. Essa passagem nomeia sintomas de um único e maior pecado: desprezar Deus e a possibilidade de conhecê-lo. O pecado é compulsivo. É um vício. O evangelho, quando condena, mostra imediatamente a solução ou cura. A ênfase do evangelho é a solução. Por isso ele é evangelho, isto é, boa notícia. Desprezamos Deus, mas Deus se humilhou vindo nos buscar.

Precisamos nos perguntar por que nos entregamos ao vício. Nossa necessidade de sexo é a necessidade de Jesus. Só que ainda não sabemos disso. Não nos permitimos descobri-lo. E esse é o nosso pecado: não dar uma chance para Deus ser a nossa satisfação em vez de buscarmos nos satisfazer por nossos próprios meios.

Nossa necessidade de coisas bonitas é a necessidade de Jesus. A necessidade de Jesus é a forma mais concreta e simples de dizer aquilo que o mundo inteiro tem dissimulado o tempo todo. A moça que coloca silicone nos seios coloca silicone nos seios tentando satisfazer uma necessidade que é a necessidade de Jesus. Só que ela não sabe. Ela quer ser bela, isto é, ela quer ser desejada, isto é, ela quer ser amada. E Jesus é o Amor. Da mesma forma, nossa necessidade de viver intensamente é a necessidade de Jesus. Porque Jesus é a própria Vida. Não temos entendido isso. E isso é o fundamento.

O evangelho é o método. Ouça as palavras de Jesus. E o evangelho como método procede assim:

- acusa o acusador;
- convida o pecador;
- nomeia causas, e não sintomas;
- leva o ouvinte a ELE MESMO reconhecer seu pecado.

(Nas próximas postagens, quem sabe eu consiga esclarecer textualmente esses pontos em Romanos e no sermão do monte.)

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