quarta-feira, 28 de abril de 2010

11. Como se faz

O Sermão do Monte é a grande perspectiva graças à qual se pode arejar esta vida sufocada. É uma ética – uma visão muito concreta, muito prática, de como a vida deve ser – e portanto um COMO SE FAZ. É o ideal a que nos dirigimos em nossa caminhada espiritual. O que nos define como seres humanos é que estamos a caminho. Então precisamos reescrever suas palavras continuamente e pessoalmente. Você precisa ter seu own private Sermão do Monte atualizado conforme sua experiência cristã particular, que, porque é cristã, não deixa de ser uma experiência com muito mais gente, uma experiência em e da comunidade.

As bem-aventuranças, ou mais-que-felicidades, repousam sobre aqueles que o mundo considera desventurados ou infelizes. É o discurso das inversões. É Deus abençoando quem é maldito.

Bem-aventurados os idealistas, porque serão mal pagos, mal pagos e livres. Talvez morram de fome, essa é definitivamente uma possibilidade, ou vivam mal, que é quase uma certeza, com roupas feias e sapatos gastos, mas terão princípios e falarão em princípios – sem ser ouvidos (Eclesiastes 9.16). Pois o idealismo é o caminho mais rápido pra indigência.

Bem-aventurados os inseguros, porque é sinal de que são inteligentes. Baixa autoestima, quando jovem, não é nada senão inteligência, uma garantia dela, como um selo ou sinal na testa, que homens mais velhos enxergam, consolando-se de também terem sido assim e, graças a Deus, superado essa fase.

Bem-aventurados os que não têm razão nem se preocupam em tê-la, porque o que mais lhes interessa é serem honestos consigo mesmos e admitirem que só se pode saber quando de saber depende a nossa própria pele.

Bem-aventurados os que não sofrem de burocracia mental e estão dispostos a ouvir e apreciar os demais e abraçar a diversidade. Eles se guardam de condenar quem Deus não condena. E Deus não condena ninguém (João 3.17; 2 Coríntios 5.19).

Bem-aventurados os indignados, porque morrerão do coração e descobrirão que eram justos por cobrarem justiça de um mundo injusto. Não se deixaram amortecer pelo bom-senso nem se recolheram com sono quando ainda era dia.

Bem-aventurados os que permanecem na igreja, porque não permanecem por si mesmos, mas por aqueles que precisam permanecer, seja pelos que já permanecem, seja pelos que virão a permanecer. Graças a eles, um dia a igreja será perfeita, quando eles estiverem mortos.

Bem-aventurados os esquisitos, porque não se adequaram para satisfazer homens e assim satisfizeram a Deus, que é o que importa, como está escrito (Atos 5.29). Viverão como aqueles que satisfizeram a si mesmos, porque assim são os homens, quando não os satisfazemos como querem, eles nos condenam e aí fica tudo bem.

Bem-aventurados os clandestinos, porque não querem escandalizar aqueles que já os condenaram. Pensando o que pensam em secreto, descobriram que só pensam aqueles que pensam em secreto, porque pensar sempre escandaliza. Até quando professaremos nossa fé às escondidas; até quando seremos cristãos marginalmente, nos cantinhos onde ninguém repara e onde a poeira se acumula; até quando seremos clandestinos?

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Bem-aventurados